Oi meninas!
Essa semana estava fazendo um exame de ultrassom abdominal de uma paciente sentindo fortes dores pélvicas. Ele me relatou que se recusou a ficar no hospital para receber medicações mais potentes e saiu do hospital contra a opinião do médico. No momento não pude compreender como alguém quer continuar sentindo dor, mas o caso não foi esse. Ela me relatou que tem medo e uma forte incapacidade em conseguir permanecer em ambientes fechados, até mesmo em casa. É óbvio que ela não queria sentir mais dor, mas só o pânico de pensar em ter que ficar no hospital foi maior que a sua própria dor.
Isso me fez pensar em um assunto que pouca gente fala e menos ainda se diagnostica: a Fobia Social ou Transtorno de Ansiedade Social.
Essa paciente que relatei acima sofre de Transtorno de Pânico (ou Síndrome do pânico) que se caracteriza por um estado de ansiedade grave em que a pessoa tem a sensação de que vai morrer a qualquer hora. Junto com ela vem as palpitações, sensação de desmaio, dor no peito, falta de ar, ondas de calor e por aí vai. A grande diferença é que essa crise às vezes aparece sem motivos específicos. Você pode estar no meio da rua e simplesmente pára, trava, até passar a crise… Esse transtorno requer acompanhamento psiquiátrico e psicológico.
Mas o que eu gostaria de conversar aqui hoje é um transtorno muito comum, de gente que acha que realmente não reconhece em si mesma algum distúrbio, simplesmente achando que é muito tímida…
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O que é Fobia Social?
Medo todo mundo sabe o que é e já sentiu alguma vez na vida. Ele faz parte do nosso mecanismo de auto-proteção. A palavra “fobia” significa medo exagerado de alguma coisa ou medo patológico.
Sentir-se observada pelos outros pode trazer uma insegurança descomunal. A pessoa fica super preocupada com o que os outros vão achar do desempenho dela, ficando cada vez mais ansiosa, podendo chegar a ter uma crise aguda de ansiedade (dor no peito, taquicardia, sensação de desmaio, vista escurecida…). Uma tarefa banal como comer na frente dos outros, ir a lugares muito cheios, apresentar um trabalho na frente da sala de aula ou no trabalho ou fazer uma entrevista de emprego podem ser super temidas pelas pessoas que sofrem desse transtorno. Nessas situações a pessoa sente um medo desproporcional, se sentindo insegura e ansiosa por ser o centro das atenções.
Acho que se eu pudesse identificar essas pessoas, eu diria que elas são aquelas pessoas tímidas ao extremo. Existem pessoas tímidas que conseguem fazer o que precisam, outras, se desmoronam antes de completar a tarefa, trazendo prejuízos pessoais ao longo do tempo.
Subtipos da Fobia Social
Existem dois tipos de fobia:
1) a generalizada, onde a pessoa passa a sentir medo de praticamente tudo, como sair de casa, conversar, namorar, falar, comer em público, etc.
2) a não generalizada, ou restrita, onde a pessoa tem medo de situações específicas.
Durante uma situação que cause ansiedade, a pessoa realmente sofre por estar naquela posição e assim que a situação ou motivo acabam, a ansiedade esfria rapidamente e tudo volta a ficar calmo. Só de saber que irá enfrentar uma certa circunstância, como uma entrevista de emprego, por exemplo, os centros de ansiedade já ficam ativados. Aos poucos a pessoa vai evitando passar por essa ou aquela situação e limitando gradativamente a sua vida social…
Quais as consequências de quem tem fobia social?
Como já disse anteriormente, com o passar do tempo, as pessoas fóbicas começam a ter a auto-estima abalada e a ter prejuízos de âmbito pessoal e até profissional, mas quase sempre só procuram ajuda quando o quadro se agrava ou até que reconheça que exista um transtorno. Numa tentativa de controlar a ansiedade, muitas pessoas começam a se isolar do mundo e a abusar de álcool e drogas.
Quais os principais sintomas?
O Transtorno de ansiedade é reconhecido como uma patologia pela Organização Mundial de Saúde e pesquisas indicam que entre 4 e 12% das pessoas terão algum quadro de ansiedade durante a vida.
Sintomas de ansiedade:
* palpitações
* falta de ar
* tonteira
* sensação de desmaio
* escurecimento das vistas
* formigamento no corpo
* queimor na face
Sintomas situacionais:
* tremedeira
* gagueira
* não conseguir escrever
* não conseguir ler em voz alta
* esquecimento de detalhes importantes
* vontade súbita de ir ao banheiro
* boca seca
Quando a pessoa tem uma crise de ansiedade, todos esses sintomas ou a maioria deles aparece de uma só vez. É como se fosse um turbilhão de ar que passa dentro da gente e literalmente nos descaracteriza. A crise de ansiedade (ou até a de pânico) é uma despersonalização da pessoa. Você perde completamente o foco e quer só sair dali para que ninguém veja o “vexame” que você está dando. Esses sintomas levam a pessoa a duvidar da própria capacidade de conseguir realizar algo importante.
Um pensamento comum em quem sofre de fobia social é imaginar ou fantasiar que todo mundo ao seu redor está percebendo que ela está passando mal, seja pelo rubor da face ou tremor das mãos. E acreditando piamente nessa suposta verdade, maior é a sua insegurança e os sintomas só tendem a piorar. E claro, não existe absolutamente ninguém a observando…
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Existe tratamento?
A pessoa com fobia social costuma colocar muita importância na opinião dos outros. Ela se sente literalmente o centro das atenções e depende dos olhares externos para se sentir bem ou ter uma crise. O tratamento psicológico tem o papel de trazer a pessoa de volta a si mesma, sem que dependa do olhar dos outros para ser feliz.
Alguns pontos do tratamento psicológico:
1) Ensinar a pessoa técnicas de como conseguir gerenciar sua ansiedade e aumentar sua segurança durante alguma situação conflitante.
2) Identificar quais são os pensamentos distorcidos ou exagerados que levam a pessoa a ficar ansiosa, como por exemplo imaginar ser o centro das atenções ou fantasiar que todo mundo a está criticando naquele momento tão tenso.
3) Avaliar objetivamente a situação dando a pessoa uma visão mais racional do que está acontecendo, regulando sua ansiedade para baixo.
4) Ajudar a pessoa a aceitar melhor os sintomas de ansiedade, como o coração acelerado, suor excessivo e o rubor facial. Aos primeiros sinais desses sintomas ela já fica super nervosa. E quanto mais tenta se controlar, menos consegue. Isso pode ser chamado de “medo do medo” e péssimo para a regulação emocional. É necessário aumentar a tolerância a esses sinais de ansiedade para poder superar o medo deles.
5) Utilizar técnicas de exposição gradual aos sintomas da ansiedade e mais tarde, técnicas de exposição real.
A maioria das pessoas apresenta uma melhora dsignificativa do quadro apenas com apoio psicológico ou psicanálise, mas uma parte irá precisar de ajuda medicamentosa.
Resumindo
O tratamento, seja ele qual for, deverá te ajudar a:
1- se autogerenciar. Identificar o fator-gatilho pra crise;
2- aprender a desfazer as distorções de comportamento. Ninguém está te olhando e te julgando!
3-dessensibilização gradual. Ir experimentando aos poucos situações que você considera de risco.
4- encontrar no tratamento psicológico, traumas e experiências anteriores que ajudam a alimentar sua ansiedade.