Vamos entender as pílulas anticoncepcionais
As pílulas anticoncepcionais foram uma grande conquista para a mulher por poder ter o controle sobre o seu corpo, liberdade, poder se dedicar mais ao trabalho e fazer um planejamento familiar com mais segurança. Existem quatro gerações de anticoncepcionais desde que foram lançados no que se chamou de Revolução Sexual, durante a década de 60. Elas são classificadas de acordo com a dosagem de etinilestradiol (hormônio feminino) em sua composição. Quanto mais modernas, menor a concentração de etinilestradiol e menor os seus efeitos colaterais.
Primeira geração (150 mcg de etinilestradiol)
Eram compostos por altas doses de estrógeno (mestranol e noretisterona), o que significava muitos efeitos colaterais como náuseas, dores de cabeça e distúrbios vasculares (como trombose e AVC).
Segunda geração (30-50 mcg de etinilestradiol)
Vieram 10 anos depois, agora associadas a dois tipos de progesterona: levonorgestrel e norgestrel, derivados da testosterona. Apesar da menor concentração de etinilestradiol, ainda tinhas os efeitos não desejados, como as tromboses, AVCs, acne, dor nas mamas, enjôos, retenção de liquido, celulite, depressão, dores de cabeça frequentes, inchaço do corpo e ganho de peso. Mas em compensação, é muito eficaz no tratamento do excesso de pêlos e acne.
Levonogestrel: Triquilar, Ciclo 21, Microvlar
Norgestrel: Anfertil
Terceira geração (30 mcg ou menos de etinilestradiol)
Chegaram ao mercado na década de 90 e apresentando três progesteronas: desogestrel, gestodeno e norgestimato e ciproterona. São antiandrogênicos, diminuindo acne e oleosidade da pele e têm menores efeitos colaterais que as anteriores. Mas alguns estudos têm revelado o risco aumentado de tromboembolia se comparado aos de 2a geração.
Desogestrel: Femina, Mercilon, Gracial, Minian e Primera
Gestodeno: Micropil, Ginesse, Femiane, Diminut, Harmonet e Tamisa
Norgestimato: Triafemi, Cilest, Tricilest e Effiprev
Ciproterona: Selene, Diane 35, Diclin e Artemidis
Quarta geração (20 mcg de etinilestradiol)
Por fim, no inicio dos anos 2000 entram as pilulas modernas que apresentam como progesteronas: acetato de trimegestone e a drospirenona, (um diurético – faz eliminar mais á água do corpo, desinchando e diminuindo a TPM) e agem contra acne e excesso de oleosidade da pele.
Drospirenona: Yas, Yasmin, Elani ciclo.
Trimegestone: Totelle
Quais os benefícios de se usar pílula?
A pílula foi um grande avanço da indústria farmacêutica e da liberdade feminina de poder controlar o próprio corpo. Seus benefícios são vários:
* Evitar gravidez indesejada
* Reduzir o risco de câncer de mama, ovário e endométrio (camada interna do útero)
* Diminuir os efeitos da TPM (inchaço, cólicas, acne, irritabilidade, etc)
* Não causa infertilidade (ao contrário do mito popular que diz que sim, o que acontece é que muitas mulheres tomam a pílula por muito tempo e, quando decidem parar, já estão numa idade em que a fertilidade já não está tão mais favorável ou descobrem que já possuem algum problema pra engravidar).
* Regulação dos ciclos menstruais
Quem tem maiores riscos de ter trombose?
Algumas mulheres estão completamente contraindicadas a tomar esse tipo de combinação de hormônios e devem procurar outros meios para prevenir uma gravidez. No caso de peri e pós-menopausa os casos são individualizados. As principais contraindicações são as seguintes:
* Fumantes
* Obesas
* História de câncer de mama prévio ou casos na família
* Problemas de coagulação sanguínea sabida (ex: trombofilia)
* Pressão alta (hipertensão arterial leve, bem controlada, em mulheres que não fumem, com menos de 35 anos e sem doenças vasculares, não é contraindicação absoluta ao uso de pílulas com baixas doses)
* Doenças renais, cardíacas e hepáticas (fígado)
* AIDS
* Tuberculose
* LES (Lupus eritematoso sistêmico)
Quais os risco de eu ter uma trombose tomando pílula?
O grande vilão dos riscos de infarto, trombose e AVC (derrame) até então era o estrógeno, sabidamente conhecido por alterar a coagulação do sangue. Só o fato de estar grávida, o risco de se ter uma trombose venosa profunda é maior do que quem toma pílulas combinadas. Mas diante das mortes e complicações relatadas nos últimos anos, os olhos se voltaram para as progesteronas de 3a e 4a gerações, a drospirenona, ciproterona, gestodeno e desogestrel .
Para se ter ideia, o risco de uma mulher que não toma nenhuma pílula, ter trombose é de 5 a 10 casos por ano em cada 100 mil mulheres, com uma mortalidade de 2%. Este risco é dobrado para quem usa comprimidos de segunda geração e multiplicado por 3 a 4 pra quem toma comprimidos de terceira geração, mas ainda é muito inferior ao risco que existe durante a gravidez, multiplicado por 6!!!
Seja qual for anticoncepcional, o risco de se ter um problema sanguíneo é maior no primeiro ano de uso. O acetato de ciproterona (ex: Diane 35), comercializados como anti-acne, multiplica o risco em 6,68! Estes dados dinamarqueses, publicados em 2009, foram reconhecidos pela Sociedade Francesa de Endocrinologia nas suas recomendações para o uso de anticoncepcionais hormonais em mulheres de risco.
Leia também:
* Métodos anticoncepcionais além da pílula
* Síndrome dos Ovários Policísticos
Segundo a ANVISA, as mulheres que usam pílulas contendo drospirenona, gestodeno ou desogestrel têm um risco de 4 a 6 vezes maior de desenvolver um evento tromboembólico em 01 ano, do que as mulheres que não usam pílulas. Até agora, os benefícios dos anticoncepcionais na prevenção da gravidez continuam a superar seus riscos.
Discussão
A revista Época em março de 2015 publicou um artigo dizendo “Quando a pílula anticoncepcional é a pior escolha”, mostrando algumas vítimas quase fatais. O superintendente da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) disse durante uma audiência pública que “existem falhas no sistema de controle dos efeitos adversos dos anticoncepcionais. Esse problema é mais antigo do que se imagina e esta fazendo muitas mulheres terem complicações como acidentes vasculares cerebrais, trombose, embolia pulmonar, necrose estão entre os efeitos colaterais nocivos causados.”
Já a OMS (Organização Mundial de Saúde) diz que os riscos ainda são muito baixos e não são motivo suficiente para que as mulheres deixem de usá-las.
Como a pílula é um medicamento extremamente difundido e fácil de comprar, sua banalização foi inevitável. Muitos dizem que seus ginecologistas não disseram nada sobre os riscos quando a pílula foi prescrita e muitas mulheres não sabem que têm predisposição genética ao tromboembolismo, que inclui trombose venosa profunda com possibilidade de embolia pulmonar e trombose arterial, como o derrame (AVC) e o infarto do miocárdio. Os sinais e sintomas de eventos tromboembólicos se manifestam por dor forte, inchaço nas pernas (principalmente nas batatas da perna), falta de ar súbito e palpitações.
Se analisarmos bem, a evolução dos anticoncepcionais se deu em tornos do alívio dos efeitos colaterais, mas se por um lado está ajudando, parece que do outro pode estar prejudicando. Muito estudos e pesquisas precisam ainda calcular o real risco de uma pessoa saudável, que teve sua pílula bem indicada de acordo com as suas queixas, ter uma crise tromboembólica e isso ser fatal.
Em 2013 a França proibiu a venda do Diane 35, após confirmar 4 mortes nos últimos 25 anos, ligadas ao uso da ciproterona. No Brasil e Estados Unidos, o Diane 35 continua sendo vendida.
Tentando concluir
O seu ginecologista deve pedir exames de sangue com coagulograma pra ver se existe alguma alteração de coagulação (não é exame genético para trombofilias), Papanicolau, fazer um exame físico completo, incluindo as mamas, aferir sua pressão arterial e colher o máximo de informações individuais para se ter a segurança ao prescrever um anticoncepcional pra você. Já exames genéticos para saber se você tem algum gene defeituoso para trombofilia, além de ser uma doença rara, são muito caros e não fazem parte da rotina.
De acordo com a ANVISA, as mulheres devem continuar tomando a sua medicação, a não ser que seu ginecologista a peça para parar.
Mas o seu corpo é só seu e sua cabeça também. Se você optar por descontinuar o uso, peça ao seu médico que te indique outro método com menos riscos.
Os anticoncepcionais aumentam o risco de trombose? Sim. É só ler na bula!
Você deve parar de tomar a pílula? Isso vai depende de você. Como já expliquei em outro post, há inúmeras maneiras de se prevenir uma gravidez sem usar hormônios. Mas se você tem TPM, sofre de ovários policísticos, cólicas fortes e sangramento aumentado, talvez não tenha muita saída. Se você tiver um dimdim extra, peça ao seu médico para pedir algum exame mais específico para trombose, e tome a sua pílula sem stress. 🙂
Fonte: Manual de anticoncepção da FEBRASGO (http://www.febrasgo.org.br/site/wp-content/uploads/2013/05/Femina-v37n9_Editorial.pdf) e página da ANVISA.
Cerazetti não possui etinilestradiol
Verdade! Irei atualizar a pagina. Muito obrigada pelo feedback!